quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Implicações da reprovação escolar

O engodo pedagógico

Inocência, também é cultura. Cultura porque ela se origina e permanece nas pessoas e nas instituições. A inocência, quase sempre, se torna tão arraigada no imaginário individual e social que serve de escudo quando é para defender até o indefensável.

É inocente, por exemplo, quem defende que “o aluno é quem se reprova”, não ao contrário. Não é a Escola, com todos seus elementos constitutivos, que faz milhares de estudantes repetirem de ano. Diz a inocência que é o aluno que “escolhe” rever tudo de novo. É dele, então, a responsabilidade por não “ter aprendido o suficiente” e por não acompanhar seus colegas de turma na volta às aulas do ano seguinte em manifestação festiva.

“A culpa é sua”! É um dos álibis da escola para negar os danos e se isentar das responsabilidades sobre o que a reprovação provoca. Escudada nessa panaceia, a escola vive a repetir isso anos a fio e ainda consegue, por incrível que pareça, convencer da necessidade de reprovar, maior parte da sociedade, mesmo pais e mães que têm seus filhos reprovados.

Outro argumento pleno de inocência é aquele que sustenta haver “melhor aproveitamento” de quem “não foi capaz de aprender o suficiente”, assim como os demais, para ser aprovado durante aquele ano letivo. Como fosse razoável supor, que os "não aptos", portando uma boina com cara de burro, como foi usada em mosteiros na Idade Média europeia, acendesse a chama das vontades e dos desejos de aprender. Ou defender que uma criança, para ter bom comportamento, precise de "pedagógicas" bordoadas. 

Sobre melhor desempenho, vontade, inspiração e desejos de aprender aguçados, que muitos dizem despertar o estudante que foi reprovado; bem sabe as dificuldades quem teve ou tem oportunidade de lidar com estudante que repete de ano, seja um apenas ou uma turma com todos eles carimbados.

Então, reprovar como estratégia pedagógica com o intuito de reaproveitamento, de “rever conteúdos não aprendidos”, vai muito além da inocência pura, é alienação mesmo. É um jogo que todos perdem. Só falta entender o “conforto” que a sociedade, a família e a escola parecem ter com tamanho atrocidade.

Um comentário:

  1. A política de inclusão educacional precisarar de mudança real no sentido de retirar do aluno o temor, o peso da reprovação e trazendo a ele a alto confiança

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