sábado, 3 de fevereiro de 2024

GRADUAÇÃO À DISTÂNCIA - Proporção de estudantes por professores é foco de atrito entre MEC e grupos educacionais

Foto: Surface/Unsplash 

População, mesmo a que opta por estudar à distância, valoriza a importância da interação com os docentes para a qualidade da sua formação profissional

Rodrigo Bouyer
diplomatique.org.br/

Os debates sobre a qualidade da educação superior à distância no Brasil atravessaram todo o ano de 2023 com grupo de trabalho e consulta pública no Ministério da Educação (MEC) e muitos eventos promovidos pelas associações de instituições de ensino superior, a favor ou contra o status quo desse segmento.

Com as recentes decisões do Ministério da Educação, quer seja pela Portaria 2.041/23 que suspende as autorizações de cursos da área da saúde e de licenciaturas (formação de professores) e o credenciamento EAD das instituições de ensino com conceito mínimo de qualidade, quer seja pela Nota Técnica (NT) 140/23 que instaura procedimentos preparatórios de supervisão em onze grandes grupos educacionais, os debates tornaram-se mais viscerais (com menor participação de argumentos técnicos) e ganharam novos ares, reforçando a oposição de posicionamentos, também por meio de opiniões de profissionais nas suas redes sociais particulares.

Fato é que as instituições que o MEC atingiu na referida Nota Técnica, segundo os dados do Censo do Ensino Superior de 2022, totalizam 68,4% dos ingressantes na modalidade EAD não gratuita do país, o que é muito representativo. A questão envolve a qualidade pela ótica da relação estudantes por professor que estaria exagerada aos olhos do ministério nestas instituições embora seja evidente que, por meio da tecnologia, esta relação sempre será distinta daquela encontrada nas salas de aula presenciais. A NT é forte, é ousada e abalou o mercado do ensino superior no Brasil, escancarando a polaridade já existente. Esse é um fato. E o seu desenrolar, somente o tempo vai nos apresentar.

Contudo, enquanto a academia mede forças junto ao MEC, a população vai promovendo suas pequenas reações silenciosas à expansão em progressão geométrica da oferta de vagas em EAD, quando percebe a ausência absoluta de qualidade na prestação desses serviços.

Pelo Censo de 2022, o crescimento proporcional do número de ingressantes em EAD nas instituições que possuem grande credibilidade e são sinônimo de qualidade local ou regionalmente é maior do que aquele observado nos grandes grupos nacionais, mesmo com investimentos publicitários centenas de vezes menores. Mostra que, de certa forma, a população está buscando respaldo na boa reputação dos seus cursos à distância e se sentem mais confiantes ao se matricularem naquelas instituições que conhecem há décadas.

Neste mesmo sentido, em pesquisa realizada na Somos Young (empresa especializada em captação, relacionamento, cobrança e crédito para instituições de ensino) agora em 2024, dentre os estudantes que buscaram vestibular em instituições de maior credibilidade no Brasil (mais exigentes de qualidade) e fizeram a opção pela metodologia à distância, 35,8% o fizeram por acreditar que qualidade é tão boa quanto no ensino presencial e 31,3% buscaram essas instituições em função da sua credibilidade, enquanto apenas 6% informaram preferir grandes marcas nacionais. Sobre a possibilidade de encontros presenciais nesses cursos, 85,7% elegeram momentos na presença dos professores como justificativas mais importantes para ter os encontros presenciais. Ou seja, a população, mesmo a que opta por estudar à distância, valoriza a importância da interação com os docentes para a qualidade da sua formação profissional.

É de fundamental importância para o desenvolvimento do país que sejam promovidos debates consistentes sobre a qualidade na educação, não importa o nível e a modalidade. Porém, enquanto as coisas não encontram novos rumos do ponto de vista político e regulatório, aos poucos, a população vai separando o joio do trigo, ao seu modo.


Rodrigo Bouyer é avaliador do Inep e Sócio da Somos Young.

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